Todos
nós já ouvimos pelo menos uma vez na vida a famosa frase “Os jovens brasileiros
não tem o hábito da leitura” Isso realmente é verdade, porém não podemos deixar
de perceber as mudanças profundas que vem ocorrendo nesta “falta de hábito” nos
últimos anos. Com a chegada de livros como Harry Potter, Crepúsculo, Senhor dos
Anéis e tantas outras séries e sagas, o que se vê é um número cada vez maior e
mais expressivo de jovens leitores apaixonados pelos heróis destas histórias.
Essa
paixão é tão avassaladora que nem o termino da narrativa consegue quebrar o
vinculo criado entre o leitor e os personagens. E sendo assim os mais corajosos
decidem dar fins alternativos a suas amadas sagas ou simplesmente colocam seus
personagens em um universo totalmente diferente do original, é assim que surgem
as fanfics.
Segundo
Michael Frank, responsável pelo site Nyah Fanfiction, fanfic é uma forma de
manter a história original viva. “Ficamos tristes ao ver que nosso anime, série
ou livro favorito chegou ao fim, mas através das fanfictions a história nunca
acaba, nossos personagens favoritos estão sempre envolvidos em novas aventuras
escritas pelos próprios fãs”
Criado
em 2005 o Nyah Fanfiction, um dos maiores sites de fanfic do Brasil, tem uma
média de 185 novas histórias, 1.100 novos capítulos e 230 novos cadastros de
usuários por dia. Em dados apurados em fevereiro de 2012, no total são mais de
100.000 histórias, 800.000 capítulos, 120.000 usuários cadastrados.
Apesar
dos números expressivos neste e em outros sites, existem aqueles que criticam o
movimento e afirmam que as fanfics corrompem a idéia e o sentido da história
original, além de, em vários casos, pecarem em regras básicas do português.
Contra
ou a favor a realidade é que este novo modo dos leitores se relacionarem com
seus livros favoritos esta ganhando mais adeptos a cada dia. E o que começa
como um ato apaixonado seja pela leitura e escrita ou pelos heróis pode se
tornar um livro original. Para falar sobre isso o (A)lternativas convidou a ficwriter
da Saga Crepúsculo Jane Herman, autora do livro Entre a Nobreza
e o Crime para um bate-papo.
(A)lternativas - O que a motivou a
começar a escrever fanfics?
Jane Herman - Eu sempre escrevi,
mesmo que, fora do ambiente universitário, nunca tenha mostrado publicamente o
que escrevia. Escrever sempre foi mais uma necessidade, algo que eu precisava
fazer para continuar enfrentando os pequenos probleminhas do dia-dia, que
propriamente um prazer. A escrita me acompanhou durante todo o meu processo de
crescimento! Utilizei a ficção para escapar muitas vezes das situações nada
simpáticas que estavam no mundo real. Escrever fanfics foi, para mim, como unir
o útil ao agradável, porque eu pela primeira vez pude compartilhar de fato o
que se passava na minha cabeça.
-De onde você tirou inspiração para escrever Entre a Nobreza e o crime?
Múltiplas inspirações, impossível definir uma só. Fiz um mix de O Poderoso
Chefão (Mario Puzo), A Ira dos Anjos (Sidney Sheldon) com os estudos que eu
fiz/faço para a faculdade sobre aristocracia britânica, juntei tudo isso no
liquidificador e “triturei”. Não sei se o gosto é bom, mas o caldo é bem
grosso! (risos)
-Quais foram os maiores desafios encontrados ao escrever essa história?
A história se passa na Inglaterra, e eu nunca passei nem perto da Terra da
Rainha. Aristocracia é um tema que eu estudo, mas há muitas informações que não
posso saber pelo simples motivo de nunca ter feito um trabalho de campo lá.
Essas minhas dúvidas eu tento sanar com o bom e velho Google ou com a ajuda de
conhecidos meus que moram ou moraram lá. É um pouco mais difícil para falar
sobre Máfia, porque este tema nunca estudei profundamente na faculdade, e
também não tenho alianças criminosas que me auxiliem! Por via das dúvidas,
recorro novamente ao Google, jornais, revistas e a boa e velha criatividade.
-Foi uma “surpresa” quando sua história saiu do mundo virtual e se tornou um
livro ou era algo que você já tinha como objetivo?
Nunca tive o sonho de publicar um livro não-acadêmico. Não tenho essa vontade
de ficar famosa, ser reconhecida, tanto é que impus a condição à editora de
manter a privacidade do meu nome real, que não é Jane Herman. Se há um ano você
me falasse que eu publicaria Entre a Nobreza e o Crime, diria que você tinha
tomado um chá de cogumelo dos bons. Eu havia recebido vários comentários de
leitores dizendo que a história rendia livro, que eu deveria tentar com alguma
editora, porém jamais levei essas sugestões a sério. Demorei semanas para levar
fé no contato da editora!
-Você acredita que as fanfics são uma ferramenta que auxilia o hábito da
leitura dos jovens ou é algo que apenas reafirma este gosto?
O que surgiu primeiro, o ovo ou a galinha? (risos) Eu acho que as sagas que
originaram as fanfics que auxiliam o gosto da leitura nos jovens. Quando eles
caem no mundinho das fanfics procurando histórias alternativas com seus
personagens favoritos, já estão bem mais antenados sobre o que gostam e o que
não gostam.
-Qual é o maior diferencial, tanto positiva quando negativamente, te ter sua
história escrita inicialmente na plataforma virtual?
O ponto positivo crucial é que, escrevendo fanfics, você angaria um público
certo, tomando-o “emprestado” das Sagas originárias.
Porém, os pontos negativos é que são problemáticos. Em primeiro, fanfic, no
Brasil, é observada pelo público de fora como literatura de baixa qualidade, o
que é uma injustiça levando-se em conta a qualidade de muitas histórias que estão
no ar. Por causa desta visão estereotipada, é complicado entrar no mercado
editorial como ficwriter. Confesso que, com o lançamento de Entre a Nobreza e o
Crime batendo em minha porta, ainda não sei se vale o stress entrar no mercado
de peito aberto como escritora de fanfics. Recebi algumas orientações de
pessoas mais “entendidas” no assunto para não tornar isso cartão de visitas,
sabe? Deixar que os novos leitores não recebam a informação da Jane Herman
ficwiter logo de primeira. Mas também penso muito freqüentemente em mandar
todos os críticos se danarem! Porque eu sou uma ficwriter, sou grata ao público
que conquistei como ficwriter e não há nenhum pecado em ter começado assim.
Em segundo, se um romance em plataforma virtual pode se espalhar como rastilho
de pólvora, o que é ótimo para uma ficwriter que deseja apenas ser lida, também
sabota um pouco das vendagens. O livro I de Entre a Nobreza e o Crime, aquele
que está sendo publicado, esteve por mais de um ano disponível para download, e
vez por outra acaba ressurgindo nos sites em PDF. Aí entra o trabalho de
persuasão, onde pedimos educadamente a quem disponibilizou para que o livro
seja retirado do ar. Costuma dar certo, mas nem sempre.
-O contato direto com os leitores a cada capitulo, por meio dos comentários,
influência de maneira direta na construção de sua história?
Sim e não. Sim porque um número maior de leitores comentando me faz ter
mais ânimo e inspiração para escrever, e, conseqüentemente, faz com que os
capítulos saiam melhores. Não porque os comentários, sejam positivos ou
negativos, não me fazem mudar o curso da história. Adoraria poder agradar todo
mundo, mas já que não é possível, procuro sempre agradar a mim unicamente!
-Quais são os cuidados que uma escritora de uma fic de sucesso como a sua
deve ter?
Muito curioso ser referenciada como “escritora de fic de sucesso” (risos).
Ainda tenho uma noção de irrealidade quando escuto/leio essas expressões! Mas
vamos aos cuidados, acho que o mais básico deles deve ser com o português. É
lógico que vamos tropeçar nele às vezes (eu tropeço, tu tropeças, ele
tropeça...), mas uma das primeiras preocupações que a ficwriter deve ter é
mantê-lo o mais correto possível. Se você tem dúvidas sobre como se faz uma
colocação, sobre a ortografia de uma palavra, que tal visitar o Google? Em
geral, sua dúvida não demora muito mais que dez segundos para ser solucionada.
Outro cuidado essencial, mas que muitas não tomam, é se situar muito bem no
tempo/espaço antes de começar a escrever sobre ele. Por exemplo, vemos erros em
fanfics que poderiam ser contornados com uma pesquisa bem básica, como por
exemplo, o ano letivo nos Estados Unidos, as estações do ano de lá. Muita gente
se enrola com isso e acaba postando desinformações, tais como o Verão em
Dezembro (no hemisfério norte é junho), o início do período letivo em fevereiro
(quando seria em agosto/setembro).
-Sabemos que apesar de termos fics de grande qualidade, apenas algumas se
tornam livro. Qual foi o caminho percorrido para que Entre a Nobreza e o crime
chegasse às livrarias?
Nenhum (risos)! Brincadeiras a parte, Entre a Nobreza e o Crime esteve na
internet por mais de dois anos até que editoras se interessassem por ela. Nunca
mandei o original para nenhuma, de maneira que fui surpreendida quando a Lio e
outra editora entraram em contato comigo com o papo de publicação. Me perguntam
freqüentemente “como eu posso conseguir também?”, só o que respondo é “não
sei”. Outro dia estava conversando com outra ficwriter a respeito da
importância dos up’s durante as postagens, ela comentou que eles eram muito
essenciais para que as editoras se interessassem pela história, eu comentei bem
abobalhadinha “é mesmo?”. A única verdade que sei é que sou muito amadora e
completamente ignorante quanto às técnicas de “autopromoção” (risos).
Megafone (A)lternavivas
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