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terça-feira, 8 de maio de 2012

De leitor a escritor. O que são e como surgem as fanfics


            Todos nós já ouvimos pelo menos uma vez na vida a famosa frase “Os jovens brasileiros não tem o hábito da leitura” Isso realmente é verdade, porém não podemos deixar de perceber as mudanças profundas que vem ocorrendo nesta “falta de hábito” nos últimos anos. Com a chegada de livros como Harry Potter, Crepúsculo, Senhor dos Anéis e tantas outras séries e sagas, o que se vê é um número cada vez maior e mais expressivo de jovens leitores apaixonados pelos heróis destas histórias.

            Essa paixão é tão avassaladora que nem o termino da narrativa consegue quebrar o vinculo criado entre o leitor e os personagens. E sendo assim os mais corajosos decidem dar fins alternativos a suas amadas sagas ou simplesmente colocam seus personagens em um universo totalmente diferente do original, é assim que surgem as fanfics.

            Segundo Michael Frank, responsável pelo site Nyah Fanfiction, fanfic é uma forma de manter a história original viva. “Ficamos tristes ao ver que nosso anime, série ou livro favorito chegou ao fim, mas através das fanfictions a história nunca acaba, nossos personagens favoritos estão sempre envolvidos em novas aventuras escritas pelos próprios fãs”

            Criado em 2005 o Nyah Fanfiction, um dos maiores sites de fanfic do Brasil, tem uma média de 185 novas histórias, 1.100 novos capítulos e 230 novos cadastros de usuários por dia. Em dados apurados em fevereiro de 2012, no total são mais de 100.000 histórias, 800.000 capítulos, 120.000 usuários cadastrados.

            Apesar dos números expressivos neste e em outros sites, existem aqueles que criticam o movimento e afirmam que as fanfics corrompem a idéia e o sentido da história original, além de, em vários casos, pecarem em regras básicas do português.

            Contra ou a favor a realidade é que este novo modo dos leitores se relacionarem com seus livros favoritos esta ganhando mais adeptos a cada dia. E o que começa como um ato apaixonado seja pela leitura e escrita ou pelos heróis pode se tornar um livro original. Para falar sobre isso o (A)lternativas convidou a ficwriter da Saga Crepúsculo Jane Herman, autora do livro Entre a Nobreza e o Crime para um bate-papo.

(A)lternativas - O que a motivou a começar a escrever fanfics?

Jane Herman - Eu sempre escrevi, mesmo que, fora do ambiente universitário, nunca tenha mostrado publicamente o que escrevia. Escrever sempre foi mais uma necessidade, algo que eu precisava fazer para continuar enfrentando os pequenos probleminhas do dia-dia, que propriamente um prazer. A escrita me acompanhou durante todo o meu processo de crescimento! Utilizei a ficção para escapar muitas vezes das situações nada simpáticas que estavam no mundo real. Escrever fanfics foi, para mim, como unir o útil ao agradável, porque eu pela primeira vez pude compartilhar de fato o que se passava na minha cabeça.


-De onde você tirou inspiração para escrever Entre a Nobreza e o crime?

Múltiplas inspirações, impossível definir uma só. Fiz um mix de O Poderoso Chefão (Mario Puzo), A Ira dos Anjos (Sidney Sheldon) com os estudos que eu fiz/faço para a faculdade sobre aristocracia britânica, juntei tudo isso no liquidificador e “triturei”. Não sei se o gosto é bom, mas o caldo é bem grosso! (risos)

-Quais foram os maiores desafios encontrados ao escrever essa história?

A história se passa na Inglaterra, e eu nunca passei nem perto da Terra da Rainha. Aristocracia é um tema que eu estudo, mas há muitas informações que não posso saber pelo simples motivo de nunca ter feito um trabalho de campo lá. Essas minhas dúvidas eu tento sanar com o bom e velho Google ou com a ajuda de conhecidos meus que moram ou moraram lá. É um pouco mais difícil para falar sobre Máfia, porque este tema nunca estudei profundamente na faculdade, e também não tenho alianças criminosas que me auxiliem! Por via das dúvidas, recorro novamente ao Google, jornais, revistas e a boa e velha criatividade.

-Foi uma “surpresa” quando sua história saiu do mundo virtual e se tornou um livro ou era algo que você já tinha como objetivo?

Nunca tive o sonho de publicar um livro não-acadêmico. Não tenho essa vontade de ficar famosa, ser reconhecida, tanto é que impus a condição à editora de manter a privacidade do meu nome real, que não é Jane Herman. Se há um ano você me falasse que eu publicaria Entre a Nobreza e o Crime, diria que você tinha tomado um chá de cogumelo dos bons. Eu havia recebido vários comentários de leitores dizendo que a história rendia livro, que eu deveria tentar com alguma editora, porém jamais levei essas sugestões a sério. Demorei semanas para levar fé no contato da editora!

-Você acredita que as fanfics são uma ferramenta que auxilia o hábito da leitura dos jovens ou é algo que apenas reafirma este gosto?

O que surgiu primeiro, o ovo ou a galinha? (risos) Eu acho que as sagas que originaram as fanfics que auxiliam o gosto da leitura nos jovens. Quando eles caem no mundinho das fanfics procurando histórias alternativas com seus personagens favoritos, já estão bem mais antenados sobre o que gostam e o que não gostam.

-Qual é o maior diferencial, tanto positiva quando negativamente, te ter sua história escrita inicialmente na plataforma virtual?

O ponto positivo crucial é que, escrevendo fanfics, você angaria um público certo, tomando-o “emprestado” das Sagas originárias.

Porém, os pontos negativos é que são problemáticos. Em primeiro, fanfic, no Brasil, é observada pelo público de fora como literatura de baixa qualidade, o que é uma injustiça levando-se em conta a qualidade de muitas histórias que estão no ar. Por causa desta visão estereotipada, é complicado entrar no mercado editorial como ficwriter. Confesso que, com o lançamento de Entre a Nobreza e o Crime batendo em minha porta, ainda não sei se vale o stress entrar no mercado de peito aberto como escritora de fanfics. Recebi algumas orientações de pessoas mais “entendidas” no assunto para não tornar isso cartão de visitas, sabe? Deixar que os novos leitores não recebam a informação da Jane Herman ficwiter logo de primeira. Mas também penso muito freqüentemente em mandar todos os críticos se danarem! Porque eu sou uma ficwriter, sou grata ao público que conquistei como ficwriter e não há nenhum pecado em ter começado assim.

Em segundo, se um romance em plataforma virtual pode se espalhar como rastilho de pólvora, o que é ótimo para uma ficwriter que deseja apenas ser lida, também sabota um pouco das vendagens. O livro I de Entre a Nobreza e o Crime, aquele que está sendo publicado, esteve por mais de um ano disponível para download, e vez por outra acaba ressurgindo nos sites em PDF. Aí entra o trabalho de persuasão, onde pedimos educadamente a quem disponibilizou para que o livro seja retirado do ar. Costuma dar certo, mas nem sempre.

-O contato direto com os leitores a cada capitulo, por meio dos comentários, influência de maneira direta na construção de sua história?

Sim e não. Sim porque um número maior de leitores comentando me faz ter mais ânimo e inspiração para escrever, e, conseqüentemente, faz com que os capítulos saiam melhores. Não porque os comentários, sejam positivos ou negativos, não me fazem mudar o curso da história. Adoraria poder agradar todo mundo, mas já que não é possível, procuro sempre agradar a mim unicamente!

-Quais são os cuidados que uma escritora de uma fic de sucesso como a sua deve ter?

Muito curioso ser referenciada como “escritora de fic de sucesso” (risos). Ainda tenho uma noção de irrealidade quando escuto/leio essas expressões! Mas vamos aos cuidados, acho que o mais básico deles deve ser com o português. É lógico que vamos tropeçar nele às vezes (eu tropeço, tu tropeças, ele tropeça...), mas uma das primeiras preocupações que a ficwriter deve ter é mantê-lo o mais correto possível. Se você tem dúvidas sobre como se faz uma colocação, sobre a ortografia de uma palavra, que tal visitar o Google? Em geral, sua dúvida não demora muito mais que dez segundos para ser solucionada. Outro cuidado essencial, mas que muitas não tomam, é se situar muito bem no tempo/espaço antes de começar a escrever sobre ele. Por exemplo, vemos erros em fanfics que poderiam ser contornados com uma pesquisa bem básica, como por exemplo, o ano letivo nos Estados Unidos, as estações do ano de lá. Muita gente se enrola com isso e acaba postando desinformações, tais como o Verão em Dezembro (no hemisfério norte é junho), o início do período letivo em fevereiro (quando seria em agosto/setembro).

-Sabemos que apesar de termos fics de grande qualidade, apenas algumas se tornam livro. Qual foi o caminho percorrido para que Entre a Nobreza e o crime chegasse às livrarias?

Nenhum (risos)! Brincadeiras a parte, Entre a Nobreza e o Crime esteve na internet por mais de dois anos até que editoras se interessassem por ela. Nunca mandei o original para nenhuma, de maneira que fui surpreendida quando a Lio e outra editora entraram em contato comigo com o papo de publicação. Me perguntam freqüentemente “como eu posso conseguir também?”, só o que respondo é “não sei”. Outro dia estava conversando com outra ficwriter a respeito da importância dos up’s durante as postagens, ela comentou que eles eram muito essenciais para que as editoras se interessassem pela história, eu comentei bem abobalhadinha “é mesmo?”. A única verdade que sei é que sou muito amadora e completamente ignorante quanto às técnicas de “autopromoção” (risos).

Megafone (A)lternavivas

Dê sua opinião sobre a matéria! Concorda ou discorda? Já escreveu ou tem vontade de escrever fanfics, conte para nós sua experiência.

9 comentários:

  1. Obrigada pela oportunidade do papo, Mayana. Sucesso para as suas pesquisas e o seu blog!

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  2. Adorei a entrevista, parabéns Jane e Mayna.

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  3. Gostei muito da entrevista.
    Parabéns Jane Herman!

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  4. Muito boa a entrevista! Sincera e direta, gostei mesmo!
    Pois é, com certeza o preconceito com livros que vieram de fics existe, já senti isso na pele. Então, por experiência própria concordo com o fato de que essa informação não seja usada como propaganda inicial. Deixa a coisa rolar, se alguém perguntar não negue, porém não é sábio sair levantando bandeiras agora, deixe para fazer isso quando seu livro for bastante conhecido e seu nome respeitado. Aí sim, vc poderá alardear aos 4 ventos e todos ficarão boquiabertos! Rsrs...
    Bjks.

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    1. Obrigada pelo seu depoimento Maribell. Sinceramente, antes de fazer essa entrevista com a Jane não sabia deste preconceito contra as fanfics. E acredito que tirando todas as críticas construtivas e relevantes dos "opositores"o que existe é mais um medo de algo novo que está modificando a forma clássica que conhecemos do ato de "escrever um livro".

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Parabenizo Mayna pela iniciativa, assim leitores que não conhecem Jane Herman,puderam conhecê-la um pouquinho atravês dessa entrevista e deixar suas leitoras super orgulhosas pelo lançamento desse livro´super desejado pelas *Funcionárias do Bordel da Jane.
    Adorei,besitos.

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  7. Oi Jane, Chefinha...

    Mais uma vez você mostrou ser uma rapariga com a cabeça no lugar.
    Concordo com você nas suas opiniões e também acho que seja escritora de Fic de sucesso!!!
    Também sou amante do Google! Mas nós os portuguesinhos temos de ter mais cuidado nas pesquisas, pois muitas delas são vossas e não estão de acordo com a nossa realidade.
    A questão do português que você falou também é muito importante, por exemplo: abomino quando meninas ficwriter escrevem “mim adoro” em vez de “me adoro”. Confundem o pronome possessivo com o pronome pessoal ou ainda simplesmente confundem com o pronome “eu”. Sei que todos erramos, mas às vezes não aparece só uma vez na fic, e sim várias vezes.
    Adorei a sua entrevista, Muitíssimos Parabéns e Sucesso.

    Mayna Moreira, não conheço você mas Felicitações pela Entrevista!

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  8. Eu escrevo fanfic...
    Estou muito feliz pelo o sucesso dessa escritora, apesar de nunca ter lido essa fic acho que ela deve está ótima. Meu sonho sempre foi publicar um livro e espero que tenha a mesma sorte da Jane.
    Eu concordo com ela em uma coisa. Se eu fosse publicar um livro também não faria com o meu nome verdadeiro. Quando comecei a estudar literátura no colegio, fiquei fascinada com os autores que publicavam os textos com seus pessiodonio me apaixonei, eu sei coisa estranha,mas eu sou pirrada, então...
    *deixa tudo em off*
    Alias eu posto no site do Nyah. Acho Fanfic uma coisa bem legal. Insetivante.Se um dia acabassem com elas acho que eu morreria. Eu adoro ter comunhão com os meus leitores, acho que é o mínimo, os leitores são carinhosos.
    Desejo tudo de bom para todos.

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